domingo, 13 de dezembro de 2009

Novos amores vem e vão

Texto que achei perdido pelos arquivos mortos do meu computador. Sem revisões ou frescurites, não reparem a indelicadeza.

Querido,

Estou vindo te contar as notícias. As coisas não andam fáceis mas nada fora do comum, quem sabe... ainda bem.
Não consigo cortar o cabelo, ele continua bagunçado e emaranhado como sempre, você sabe como é.
Quase agora, fui tentar ler alguma coisa, mas também não consegui. As poucas linhas nas quais bati o olho só me fizeram querer te falar sobre mim, sobre meu cabelo, sobre meus planos e sobre coisas que eu também não vou te falar, porque mesmo com a distancia e essas coisas mais, você talvez ficasse bravo e com certeza não entenderia. Então eu também não quero te falar.
Eu realmente não esperava nada para hoje, querido, nada além da confusão, do descontentamento e do desespero de sentir que não consigo fazer nada.
Estou me sentindo apaixonada e era exatamente sobre isso que não queria te dizer, querido.
Não se sinta trocado e não me interrompa, por favor, me deixe terminar.
Eu fiquei realmente feliz com esse algo que meu corpo estremeceu, as mãos suaram frio. Algo realmente inesperado. As palavras que eu estava procurando um meio de dizer, de repente sairam da boca que quem eu queria ouvir, mas achava impossivel.
Fiquei tão estasiada, querido, que até a chuva me fez bem. Tirou um pouquinho do medo em minha alma. Enquanto lá fora o tempo tá fechado, aqui dentro tá lua de verão com céu estrelado.
Você não está bravo comigo, não é?
Não quero que fique, por favor. Olha, não jogue a carta, se não você vai se esquecer de terminar de le-la.
Acabei falando o que disse que não ia dizer, eu sei, mas você é parte de mim que está aí solta pelo mundo e sabe quais eram as chatiações.
Leia isso como se fosse Caio escrevendo pro Zezim... depois que eu me dei o direito da licença poética, as palavras não esperam sua vez de chegar. Elas chegam e vão conforme mudo de linha.
Sabe querido, eu não estou mais branquela e a maquiagem já não é pesada. Eu mudei bastante desde que você partiu. E não entenda isso como se fosse festa por você ter ido, não...
É que eu precisava de amor, compreende? Mas também não queria As Mãos De Qualquer Um posando onde As Mãos Do Meu Querido pousaram.
Entenda, você faz falta.
Mas antes vou continuar escrevendo sobre quem você não quer saber...
Ele tem cabelos longos e é magro igual a você. Tem os olhos e o sorriso quase tão pueris quanto os seus. Ele também tem aquela pitada de malvadeza. Mora lá perto da República e escuta música boa, até mais do que você, querido.
Mas calma, não fique bravo porque ele não vai roubar nosso conto não realizado. Não vai ter nada de calcinhas pelo sofá, nem bitucas pelos cinzeiros espalhados, nem nossos discos espalhados pelo chão, nem decoração marroquina. Com ele vou escrever diferente. Existem coisas guardadas em uma gaveta que são só suas e ninguém jamais saberá. Só eu e a luz que me acompanha.
Saiba também que meus planos estão dando certo, minha apresentação acontecerá daqui algumas semanas, estou começando um negócio novo e desejando muito que as coisas deem certo tanto para mim quanto para você.
Você sabe que nada mudou, nem vai mudar, apenas foi sufocado pelo peso da minha cabeça com o corpo dele no meu travesseiro.
Mas talvez eu acredite que daqui uns 10 ou 15 anos você vem de novo com suas velhas historias e quem sabe eu caia novamente.
Só não se sinta trocado por causa da história do novo amor.
agora me calo pois seu que você deve estar parado com os olhos nesta folha que um dia toquei.
Sei que o silêncio da madrugada está sendo cortado pelos pingos na pia (lembro-me que quando sai daí, ela estava assim a um bom tempo e você nunca arruma).
Sei também que o cinzeiro deve estar cheio, você fuma muito mais quando se irrita, e o vapor do café deve estar esquentando seu rosto. Então antes de dormir jogue tudo fora e apague a luz.
Hoje eu estipulei que é seu dia, pois você vai ser o último a se deitar na cama.

Um beijo da sua querida.